RESENHA | ULYSSES – JAMES JOYCE

Resenha Ulysses de James Joyce

Leopold Bloom é o figurão em pessoa, tem uma necessidade da esposa Molly, pensa nela o dia todo enquanto caminha pelas ruas de Dublin e tem os pensamentos mais engraçados e malucos de todos, mas acima de tudo, um homem simples, comum e com traumas. Humano. Bloom terá sua vida cruzada com a de Stephen Dedalus, um intelectual, professor, escritor e aficionado por Shakespeare, que não tem onde cair morto e assim como Bloom, cheio de traumas. Além desses dois protagonistas, creio que temos um terceiro, o livro. 

 

Mas sobre o que é a obra? 

Ulysses é totalmente ligado ao poema épico de Homero, “Odisséia”. O que Joyce faz é uma releitura das características do poema, uma espécie de paródia no estilo de fluxo de consciência. Joyce vai espelhar em seu livro todos os episódios da história de Odisseu, os 10 anos que levou para voltar a Ítaca após a queda de Tróia. Bloom é o Ulisses de Dublin, que vai levar 1 dia inteiro de procrastinação para voltar para casa pois suspeita que sua esposa irá se encontrar com seu amante. Sendo assim, o livro TODO se passa em apenas um dia.

O autor também vai parodiar com muitos assuntos pertinentes a época em que o livro foi escrito, como por exemplo o antissemitismo que pairava no pré-guerra, as relações sociais, nacionalismo, adultério, sexualidade, intelectualidade, morte e claro, a narrativa.

É um livro com muita informação histórica, política e cultural. Além de algumas menções de acontecimentos ou personagens de outras obras do Joyce, como “Dublinenses” e “Retrato do artista quando jovem”. Sem contar que também é uma espécie de autobiografia parodiada. Joyce vai espelhar aqui acontecimentos de sua vida.

A narrativa do livro é totalmente inovadora, Joyce vai experimentar diversas formas linguísticas em torno do fluxo de consciência, vai colocar muitas referências históricas, intelectuais que deixam a leitura bem repleta mas ao mesmo tempo lenta.  

A experiência de ler Ulysses:

Grande parte da minha dificuldade com fluxos de consciência, e principalmente em Ulysses é a ambientação das cenas. Estamos acostumados a ter descrições de ambientes de mão beijada, e neste livro isso não acontece. A ambientação é diferente, são apenas flashes do ambiente, e na grande maioria, andanças pelas ruas de Dublin com nomes dos locais e comércios. Só percebemos onde a personagem está depois de um bom tempo na cena. 

O fluxo de consciência é presente em todo o livro e tem suas variações. O fluxo da vida a consciência e inconsciência da personagem e do livro, que também parece ser consciênte. Devido a isso, emoções, ações e ambientações estão todas entremeadas no texto ao mesmo tempo,  necessitando de muita atenção pois qualquer detalhe pode passar batido, e na maioria das vezes esse detalhe vai fazer falta lá na frente.

Os diálogos são, na maioria das vezes jogados no texto, os assuntos não tinham um começo, sempre pegamos o bonde andando, pois o fluxo de consciência está em constante movimento. O enredo dos diálogos possuíam diversas referências, muitas delas eu não peguei, outras Joyce ironiza, tira um sarro do leitor, intelectualiza algo só para parodiar. Era uma doideira só, rs. 

Depois de um tempo (episódios) a narrativa toma um rumo diferente, mais independente e aprimorada. O que mais uma vez me deixou desconfortável pois lia e relia o mesmo trecho várias vezes para tentar entender o que estava acontecendo, que era um misto de fluxos de consciências, ambientação, parte sensitiva além do livro ganhando vida própria. Difícil mas fenomenal!

Cada frase de Ulysses tem algo escondido nas entrelinhas, quando digo CADA FRASE, é cada frase mesmo. Encontrei um site que é especialista na obra e ele nos dá todas as notas não contida no texto. É surreal, é um livro a parte. Para mim, Ulysses foi um dicionário intelectual.

Usei duas leituras de apoio para me ajudar, uma foi a leitura conjunta do livro “Sim, eu digo sim” do Caetano Galindo (tradutor da edição de Ulysses que li), que é uma visita guiada para interpretar melhor as entrelinhas dos episódios, e também o site “Ulisses de Joyce“, que é todo elaborado com estudos sobre cada pedacinho do livro. 

Não diria que Ulysses é um livro difícil, mas sim inteligentíssimo, aos excessos, rs.

Quem sabe esse livro não é sobre os acasos da vida? Sobre pensamentos internos, conflitantes e aleatórios que dão simplicidade a vida, tornando-a real e simples.

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