RESENHA | LUA DE LARVAS – SALLY GARDNER

Standish é um garoto de 15 anos e muito especial, possui um olho de cada cor e por ser disléxico, não consegue nem dar um nó em sua própria gravata. Além disso, ele  perdeu os pais bem cedo para uma sociedade totalmente opressora e totalitarista que usa da violência para impor seu poder. Quando vai para a escola, Stan sofre bullyng pesado e não tem amigos, até o dia que uma família se muda para a casa ao lado da sua e ele conhece Hector.

Além de vizinhos os dois se tornam amigos inseparáveis, Hector passa a defender Stan na escola e tudo vai indo razoavelmente bem, isso se excluirmos a fome que eles passam e o lugar em que vivem, a Zona 7. Um lugar onde os impuros são largados as traças, passando fome e sem recurso algum e se você não segue as regras impostas pela sociedade você é punido.

O plano de fundo da história é de uma sociedade distópica, pós Segunda Guerra Mundial, no ano de 1956, e tive a impressão de estarem passando pela Guerra Fria, onde havia uma corrida entre a ”Terra Mãe” e outro país (que parecia ser os Estados Unidos), para chegar primeiro à Lua, mostrando assim o poder maior daquele país vencedor. E através dos olhos de Standish podemos ver toda a crueldade que ainda estava presente após a Segunda Guerra, como as pessoas ainda eram preconceituosas e violentas.

Vovô dizia que, se fosse começar a chorar, achava que nunca mais ia parar – havia muito o que chorar.”

A trama começa quando seu melhor amigo some, ou melhor, é levado pelo governo desta terra opressora, e Stan passa a procurá-lo e acaba descobrindo um segredo, uma mentira que está sendo contada por esse governo. Standish então decide que tem que salvar seu amigo e desmascarar essa Terra opressora, totalitarista e assim poder se tornar livre.

Tinha me ocorrido então que o mundo era cheio de buracos, buracos nos quais você caía para nunca mais ser visto. Eu não conseguia ver a diferença entre o desaparecimento e a morte. Pareciam a mesma coisa para mim, deixavam buracos. Buracos no coração. Buracos na vida.”

Aos meus olhos o livro foi incrível, principalmente pelo narrador. Me apeguei muito ao Standish e por ele pude ver o real ponto de vista de uma pessoa que sofre de dislexia. Ele vai direto ao ponto, sem rodeios, descrevendo só o que importa e colocando metáforas incríveis ao longo da narração, o que torna o livro super dinâmico.

Tudo faz com que você fique preso na história, que é cheia de mistérios sobre o que irá acontecer com os personagens, acho que pela forma que é a linha do tempo, sendo intercalada com flashbacks.

Um detalhe importante é que a autora também tem Dislexia, mas ela consegue desmistificar a ideia de que Dislexia não é sinônimo de burrice, e ela faz isso de uma maneira sensacional!

Um ponto talvez negativo é que a leitura é um pouco confusa em algumas partes, pois fica alternando entre passado e presente e às vezes você não consegue perceber onde começa e termina essa linha do tempo. E talvez Stan pode até parecer infantil, mas em uma sociedade dessa, em que o que queriam era alienação, é o que eu esperava de um garoto disléxico, que sofre bullyng e não tem amigos.

Com o olho da minha mente, tiro uma foto dele, uma que eu possa levar comigo.”

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